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Segundo dia de interrogatório dos réus da trama golpista no STF; veja como foi

Ao todos, seis réus foram ouvidos nesta terça-feira

Redação - Goiânia, GO

Segundo dia de interrogatório dos réus da trama golpista no STF

Segundo dia de interrogatório dos réus da trama golpista no STF

Imagem: Foto: Agência Brasil

O segundo dia de interrogatório dos réus da trama golpista no STF foi marcado por uma série de declarações, negativas de envolvimento e uso do direito ao silêncio por parte de figuras-chave do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A audiência ocorreu nesta terça-feira (10), na sede do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, e integra o inquérito que apura a tentativa de ruptura institucional após o resultado das eleições de 2022.

Foram ouvidos nesta fase o ex-presidente Jair Bolsonaro, os ex-ministros Anderson Torres, Augusto Heleno, Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira, além do ex-comandante da Marinha Almir Garnier. Todos são apontados pela Procuradoria-Geral da República como integrantes do chamado “núcleo decisório” da suposta tentativa de golpe de Estado.

Almir Garnier nega apoio às tropas e diz que não viu minuta do golpe

O primeiro a ser ouvido no segundo dia de interrogatório foi o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha. Em sua fala, ele confirmou ter participado de reuniões com Bolsonaro em dezembro de 2022, mas negou que tenha recebido ordens para mobilizar as Forças Armadas ou que tivesse conhecimento sobre qualquer plano concreto de golpe. Garnier também afirmou que não leu a minuta golpista que foi apreendida com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid.

“Não fui convocado para apoiar nenhum movimento ilegal”, disse Garnier, que também rechaçou qualquer ligação com as ações dos acampamentos em frente aos quartéis.

Anderson Torres diz que perdeu o celular e nega plano golpista

O ex-ministro da Justiça Anderson Torres foi o segundo a prestar depoimento no segundo dia de interrogatório dos réus da trama golpista no STF. Ele negou envolvimento com qualquer plano de golpe de Estado e afirmou que suas ações estavam dentro da legalidade. Torres explicou que perdeu o celular em uma viagem aos Estados Unidos, justamente no período em que foi decretada sua prisão, e disse que estava emocionalmente abalado.

Sobre o polêmico documento encontrado em sua casa – uma minuta de decreto que previa intervenção no Tribunal Superior Eleitoral –, Torres disse que se tratava de um “documento apócrifo” e sem validade jurídica. Ele também negou ter recebido relatórios técnicos com informações que apontassem para fraudes nas urnas eletrônicas.

Augusto Heleno permanece em silêncio

O general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), optou por exercer o direito constitucional ao silêncio durante o interrogatório. Embora tenha se recusado a responder às perguntas, o ministro Alexandre de Moraes fez questionamentos sobre o papel do GSI na segurança institucional e sobre a suposta minuta de golpe encontrada nas investigações.

Mesmo calado, Heleno ouviu atentamente as perguntas e demonstrou tranquilidade. O silêncio foi interpretado por seus advogados como uma estratégia de defesa, já que ainda há diligências em curso no inquérito.

Bolsonaro diz que nunca falou em golpe e se desculpa por ataques ao STF

Um dos depoimentos mais aguardados do segundo dia de interrogatório dos réus da trama golpista no STF foi o do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em sua fala, ele negou de forma veemente ter planejado ou apoiado um golpe de Estado e disse que sempre atuou dentro das “quatro linhas da Constituição”.

Bolsonaro também afirmou que “nunca se falou em golpe” em reuniões com ministros e comandantes militares. Sobre os ataques ao sistema eleitoral e ao STF, ele reconheceu que, por vezes, passou do tom e se desculpou por eventuais excessos. No entanto, reforçou que suas críticas faziam parte do debate democrático.

“Eu critiquei o sistema eleitoral, mas nunca incentivei atos violentos ou ilegais. As urnas são uma caixa-preta e minha função como presidente era questionar e buscar transparência”, declarou.

Paulo Sérgio Nogueira diz que não foi pressionado e desconhece atos ilegais

O general Paulo Sérgio Nogueira, que comandava o Ministério da Defesa no final do governo Bolsonaro, também negou qualquer envolvimento com a trama golpista. Ele afirmou que não sofreu pressão do presidente ou de outros ministros para alterar o conteúdo dos relatórios das Forças Armadas sobre as eleições.

Segundo ele, o trabalho da Defesa foi técnico e não houve qualquer interferência. Nogueira também disse que não participou de reuniões com teor golpista e que desconhecia qualquer planejamento de ruptura institucional. “Nunca recebi minuta, nunca vi plano nenhum. Nossa missão era garantir a lisura do processo, não interferir nele”, disse.

Braga Netto diz que plano de golpe era invenção de delatores

Encerrando o segundo dia de interrogatório, o general Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil e candidato a vice na chapa de Bolsonaro em 2022, afirmou que nunca participou de qualquer reunião com teor golpista e que não existia plano de intervenção. Para ele, as acusações são baseadas em delações “fantasiosas” e “sem provas”.

Braga Netto também explicou que a frase “vem alguma coisa aí”, dita por ele à época, referia-se a uma ação do Partido Liberal no TSE, e não a um plano de golpe. Ele criticou o que chamou de “narrativa montada” contra os militares e o governo anterior.

“É um absurdo dizer que houve tentativa de golpe. Isso não se sustenta”, afirmou.

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